Córneas captadas pelo INTO são utilizadas em 76% dos transplantes feitos no Rio de Janeiro
Instituto vem treinando profissionais de saúde para ampliar a captação.
O Banco de Olhos do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) foi responsável por 76% das córneas transplantadas no Estado do Rio de Janeiro em 2023. Entre janeiro e dezembro do ano passado, foram captados mais de 560 globos oculares, número recorde desde a inauguração do banco, em 2013.
“Esse aumento expressivo é fruto de um trabalho conjunto com a Central Estadual de Transplantes. Nós atuamos junto às comissões intra-hospitalares, que são as equipes que realizam a abordagem familiar, sensibilizando esses profissionais que estão na ponta para a importância da doação de tecido ocular”, destaca o chefe do Banco de Tecidos do INTO, Rafael Prinz.
Hoje, segundo dados da Central Estadual de Transplantes, cerca de 4,2 mil pessoas aguardam por esse tipo de cirurgia para recuperar a visão. Para ampliar o número desses transplantes e contribuir para a redução do tempo de espera, o INTO, em parceria com a Central Estadual de Transplantes e o Instituto de Treinamento em Cadáveres Frescos (ITC Rio), vem treinando profissionais para a captação de córnea.
Desde 2021, cerca de 50 profissionais de diversas unidades de saúde, entre médicos e enfermeiros, já foram habilitados para realizar o procedimento. O curso é realizado em duas etapas: a primeira parte aborda conteúdos teóricos associados às habilidades práticas, que consiste no treinamento e avaliação da paramentação, escovação, montagem da mesa cirúrgica e manipulação de instrumentação específica.
Para completar a formação, há ainda outra etapa, a prática in loco, ou seja, um treinamento realístico, feito em parceria com o ITC Rio, com utilização de cadáver fresco - que não foi submetido a nenhuma substância química para sua preservação - e, por isso, é semelhante ao corpo de uma pessoa viva.
Segundo Prinz, essa aproximação com a realidade amplia a formação do profissional para além do ritual cirúrgico em si. “É um processo que também pode ser realizado em animais, geralmente em cabeças de porcos. Mas existe um ganho maior quando a técnica é realizada da maneira mais realística possível: visualizar um rosto humano enquanto realiza o procedimento faz com que o profissional em treinamento seja psicológica e emocionalmente capacitado para lidar futuramente com a enucleação de um doador real.
Os profissionais são capacitados desde a retirada total do globo ocular até a fase final do transporte. Além dos cuidados com a conservação do globo, que incluem a assepsia, a limpeza, a paramentação e a preservação do tecido, as equipes são treinadas ainda para a reconstrução do corpo.
Para Rafael Prinz, essa etapa também é fundamental pois o mito de que a doação pode desfigurar a aparência do doador ainda é predominante e, por isso, é importante que os profissionais envolvidos na captação realizem a reconstrução da maneira mais anatômica possível.
“É um processo de extrema importância, pois é através dele que se garante à família ‒ responsável por autorizar a doação ‒ que o corpo não sofre nenhuma deformação e o sepultamento pode acontecer normalmente”, explica o ortopedista.
29/02/2024
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