A arte da escuta no tratamento ortopédico

O acompanhamento psicológico no ambiente hospitalar tem sido de extrema importância para auxiliar no tratamento e na recuperação de pacientes atendidos no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into), no Rio de Janeiro. Pela particularidade da área médica, a ortopedia - que trata de doenças do aparelho locomotor - requer atenção especial dos profissionais de saúde para auxiliar de forma integral no tratamento físico e psicológico do paciente, minimizando a dor e o sofrimento no período de internação.

Para enfrentar doenças graves – a exemplo de enfermidades congênitas, degenerativas ou lesões incapacitantes, como paralisias e amputações -, o indivíduo necessita não só de apoio familiar, mas da presença de psicólogos e de outros profissionais de saúde que o ajudem no processo de mudança, após passar por complicações que afetem seu bem estar, aparência, mobilidade e independência. A atuação do psicólogo favorece o enfrentamento e a readaptação a situações críticas geradas pela doença e internação, visando o cuidado integral do paciente e sua família.

De acordo com a psicóloga Patrícia Mussoi, chefe da área de Saúde Mental do Into, cada indivíduo traz para dentro do hospital suas características pessoais na forma de lidar e enfrentar as dificuldades impostas pela vida, o que não será diferente com o acometimento ortopédico.  “No paciente ortopédico, a doença é visível, todos veem a doença e, na maioria das vezes, compromete a locomoção e a autonomia levando a uma dependência de outra pessoa. Será necessário que o paciente passe por diversas fases até que seja possível a aceitação da mudança e consequentemente uma adequada reabilitação. Alguns enfrentam bem esse tipo de situação e outros não”.

A psicóloga destaca as questões mais frequentes identificadas pela equipe: medo da cirurgia, insegurança com relação à reabilitação e ao futuro, dificuldades para compreender o que tem e consequentemente o procedimento que será realizado, expectativa ilusória com relação ao tratamento e questões relacionadas à morte ou à condição física imposta pela doença, afetando a autoestima do paciente.  Há ainda casos daqueles que sofrem com dores agudas e crônicas ou que permanecem em período mais prolongado de internação necessitando de atenção continuada dos psicólogos.

A dona de casa Maria de Lourdes Paulina Figueiredo, 65 anos, recebeu o atendimento psicológico durante o período de internação para operar o joelho. “Eu estava com muito medo da cirurgia. Nunca operei na minha vida e achei importante esse apoio. Foi muito bom o acompanhamento que fizeram comigo nesse período. Deus também me deu força e coragem para enfrentar e agora já está tudo bem”, contou na enfermaria enquanto aguardava a alta do médico.

Em 2014, a equipe de Saúde Mental realizou cerca de 27.500 atendimentos aos pacientes dos 12 centros ortopédicos de atenção especializada e reabilitação, em todos os setores de internação (enfermarias adulta e pediátrica, hospital-dia e CTI) e nos ambulatórios. São 21 psicólogos e um psiquiatra, que se dividem no atendimento e acompanhamento dos casos, que podem também ser solicitados a qualquer momento pela equipe multidisciplinar. A avaliação da demanda de atendimento é feita na internação e no período pré-operatório.

Após a alta hospitalar, o paciente que necessita de continuidade no tratamento é encaminhado para unidades de apoio da rede de atenção básica de saúde mais próxima da residência.